estórias de verão
deitado no colchão fitava o tecto. Sabia que era a última vez que o via daquela perspectiva, e absorvia todos os detalhes, as constelações de estrelas que ela ali havia colocado, as marcas de quando faziam amor que ficaram impressas no estuque, e o detalhe quase invisível de uma inscrição que ela havia escrito a vermelho e que dizia "love is all you need"...não pode evitar um sentimento de nostálgia e de perda, pois sabia que eram momentos que agora faziam parte das memórias, e que não voltariam a repetir-se. Agora quando os dois corpos se juntavam, o que acontecia raramente, já não era para fazerem amor, mas sim sexo, como ela tão claramente gostava de frisar. Sentiu um frio a percorrer o corpo, como se de repente tivesse consciência
que se estava a despedir de algo que já era passado, e que só para ele ainda fazia sentido. Sabia que teria saudades dos momentos ali vividos, numa altura em que o futuro parecia aberto a todas as possibilidades. Agora já não. Ela advinhando os seus pensamentos
pergunta-lhe em que pensava naquele instante. Contornando a pergunta, pois já antecipava a sua resposta, ele responde-lhe
- nos momentos em que aqui passámos...
ela, previsivelmente responde-lhe
- já sabia que estavas com as tuas nostálgias! eu não tenho saudades nenhumas desta casa!
Ele observava com atenção os despojos do que ainda restava, restos da vida dela, que apressadamente eram postos em grandes sacos negros de lixo. Até o vaso negro que ele lhe havia oferecido, estava a um canto pronto para ser reciclado no caixote de lixo.
Ele sentia-se cansado, como aliás se vinha sentido desde há muito tempo...e aquela despedida deixava-o ainda mais cansado.
Lembrou-se que dias antes ela lhe havia telefonado, dizendo, " vens ajudar-me com as ultimas coisas e a fechar a porta?"...e pensou em como desejava naquele instante fazer amor com ela ali, uma ultima vez naquele colchão, já sem lençois. Nada disse. Já se tinha tornado um hábito, guardar para si os seus pensamentos e desejos. Não os podia partilhar com ela, sob pena de ser magoado com uma resposta crua relembrando-o de que eram apenas amigos, e naquele instante sentia-se demasiado vulnerável para respostas deste teor.
A viagem para a casa nova fez-se em silêncio, enquanto ela deixava escapar um comentário acerca dos sintomas que ele manifestava.
Ele disse-lhe que sim, sabendo que ela tinha razão, que não adiantava lutar mais, que as noites em branco, e o prenúncio de uma depressão se acumulavam e não se curavam só com boa vontade.
De regresso, os dois em silêncio, ele pensava como é que tinham chegado aquele ponto...o da não comunicação. Era uma evidência que se vinha manifestando ultimamente, e o cansaço extremo de ambos não servia de alíbi. Dirigiam-se uma ultima vez para o tasco habitual, onde no ultimo ano tinham jantado com frequência. O ambiente estava denso, e ele só pensava em fugir..fugir dali, porque não suportava aquele
silêncio entre ambos. Não o fez, pensando que isso só iria piorar a situação e desejou que o jantar fosse rápido para que pudesse sair da sua presença. Escolheu um prato ao acaso, pois já nem fome tinha, e enquanto o jantar não vinha ela entretinha-se a olhar para a tv, que não podia faltar no tasco. Os minutos passavam como se fossem horas, e pareciam aqueles casais que jantam juntos sem trocarem uma palavra.
sempre lhe fez impressão isso, talvez por já o ter vivido antes. Após uma breve troca de palavras ela remata
-não quero ter discussões típicas de casais porqe não o somos!
- sentiu que naquele instante já nada fazia ali, pois era como uma presença invisível. A sua presença destinava-se a colmatar o incómodo que ela sentia em jantar sozinha num local público, e sentiu uma forte vontade de se levantar e deixá-la terminar o jantar sozinha, mas como era hábito nele, não foi capaz de ser consequente. Seria demasiado desagradável, e algo o impedia de ser mal educado, levantando-se e saindo sem explicação.
O resto? um turbilhão de palavras e pensamentos trocados apressadamente e que naqueles momentos só servem para piorar o que já de si é mau.
Sairam para a rua, e após uma breve despedida ele foi-se embora sem saber como seria o dia de amanhã, pois sabe que um dia terá de ter a coragem para partir de vez...
que se estava a despedir de algo que já era passado, e que só para ele ainda fazia sentido. Sabia que teria saudades dos momentos ali vividos, numa altura em que o futuro parecia aberto a todas as possibilidades. Agora já não. Ela advinhando os seus pensamentos
pergunta-lhe em que pensava naquele instante. Contornando a pergunta, pois já antecipava a sua resposta, ele responde-lhe
- nos momentos em que aqui passámos...
ela, previsivelmente responde-lhe
- já sabia que estavas com as tuas nostálgias! eu não tenho saudades nenhumas desta casa!
Ele observava com atenção os despojos do que ainda restava, restos da vida dela, que apressadamente eram postos em grandes sacos negros de lixo. Até o vaso negro que ele lhe havia oferecido, estava a um canto pronto para ser reciclado no caixote de lixo.
Ele sentia-se cansado, como aliás se vinha sentido desde há muito tempo...e aquela despedida deixava-o ainda mais cansado.
Lembrou-se que dias antes ela lhe havia telefonado, dizendo, " vens ajudar-me com as ultimas coisas e a fechar a porta?"...e pensou em como desejava naquele instante fazer amor com ela ali, uma ultima vez naquele colchão, já sem lençois. Nada disse. Já se tinha tornado um hábito, guardar para si os seus pensamentos e desejos. Não os podia partilhar com ela, sob pena de ser magoado com uma resposta crua relembrando-o de que eram apenas amigos, e naquele instante sentia-se demasiado vulnerável para respostas deste teor.
A viagem para a casa nova fez-se em silêncio, enquanto ela deixava escapar um comentário acerca dos sintomas que ele manifestava.
Ele disse-lhe que sim, sabendo que ela tinha razão, que não adiantava lutar mais, que as noites em branco, e o prenúncio de uma depressão se acumulavam e não se curavam só com boa vontade.
De regresso, os dois em silêncio, ele pensava como é que tinham chegado aquele ponto...o da não comunicação. Era uma evidência que se vinha manifestando ultimamente, e o cansaço extremo de ambos não servia de alíbi. Dirigiam-se uma ultima vez para o tasco habitual, onde no ultimo ano tinham jantado com frequência. O ambiente estava denso, e ele só pensava em fugir..fugir dali, porque não suportava aquele
silêncio entre ambos. Não o fez, pensando que isso só iria piorar a situação e desejou que o jantar fosse rápido para que pudesse sair da sua presença. Escolheu um prato ao acaso, pois já nem fome tinha, e enquanto o jantar não vinha ela entretinha-se a olhar para a tv, que não podia faltar no tasco. Os minutos passavam como se fossem horas, e pareciam aqueles casais que jantam juntos sem trocarem uma palavra.
sempre lhe fez impressão isso, talvez por já o ter vivido antes. Após uma breve troca de palavras ela remata
-não quero ter discussões típicas de casais porqe não o somos!
- sentiu que naquele instante já nada fazia ali, pois era como uma presença invisível. A sua presença destinava-se a colmatar o incómodo que ela sentia em jantar sozinha num local público, e sentiu uma forte vontade de se levantar e deixá-la terminar o jantar sozinha, mas como era hábito nele, não foi capaz de ser consequente. Seria demasiado desagradável, e algo o impedia de ser mal educado, levantando-se e saindo sem explicação.
O resto? um turbilhão de palavras e pensamentos trocados apressadamente e que naqueles momentos só servem para piorar o que já de si é mau.
Sairam para a rua, e após uma breve despedida ele foi-se embora sem saber como seria o dia de amanhã, pois sabe que um dia terá de ter a coragem para partir de vez...
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